Beshalach e as mulheres exemplares de Israel
Estudar as parashiot traz sempre uma oportunidade de novos aprendizados e cada líder traz uma abordagem diferente. Isso é especial! E eventualmente, durante a leitura da Torah, eu me pego fazendo exercícios para a mente, tentando encontrar novas perspectivas sobre o texto da semana. Isso é bom, nos leva a uma busca mais aprofundada sobre um ou outro verso e quem sabe, um pensamento nosso, possa ajudar a aprimorar o estudo naquele shabat?!
Nessa semana, a parashah de Beshalach falava sobre a saída do Egito, e quando os israelitas finalmente saem e veem seus inimigos perecerem no mar, Moshe e o povo entoam um cântico alegre exaltando ao Eterno. Também na haftarah, depois do inimigo ter sido derrotado, Débora e Baraque entoam um cântico. E deve ser assim mesmo: sempre quando vemos alguém cantando já logo nos damos conta de que a pessoa está alegre. Talvez por isso mesmo Tiago dizia: “Está alguém contente? Cante louvores.” (Tg 5:13)
Em ambas as situações, tanto com Moshê, como com Baraque, a participação de algumas mulheres foi fundamental (Mirian e Jael).
Nossos sábios já diziam que as mulheres possuem em si mais espiritualidade, uma relação mais próxima com o Eterno e por isso mesmo, elas são mais emotivas, sentem a D-us de uma forma mais especial. Isso não deve jamais ser desprezado, e bem verdade, é feliz o homem que sabe valorizar essa espiritualidade da esposa, a começar pelo momento especial em que ela acende as velas do shabat, e traz a luz da santidade desse dia pra dentro de casa.
Embora Mirian não seja uma personalidade de grande destaque na Torah, ela é digna de reconhecimento, e o Eterno diz: “Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Mirian.” (Mq 6:4).
Ela foi uma das figuras fundamentais para Israel durante a história do Êxodo do Egito, e ao ser colocada pelo próprio D-us como enviada ao lado de Moshê e Arão, o Talmude afirma ser ela um dos “três bons sustentáculos” para a libertação do povo. (Taanit 9a)
Na parashah de Beshalach lemos: “Então, Miriã, a profetisa, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque sumamente se exaltou e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.” (Êx 15:20,21)
Mirian tinha o espírito de liderança, pois as mulheres imitaram seu ato e todas saíram atrás dela com tamboris e danças. Isso é fantástico! As mulheres israelitas talvez não imitariam a Moshê, não cantassem, mas tão logo Moshê começou a cantar, sua irmã despertou nas mulheres o desejo de sair dançando atrás dela em exaltação ao Eterno.
O cântico de Moshê, por mais belo que fosse, talvez não transmitisse, por si só, toda a alegria daquele momento, toda a gratidão ao Eterno; era preciso algo mais, e quem trouxe esse algo a mais foi Mirian, com seu exemplo contagiante.
Além disso, “chama a atenção o fato de as mulheres terem tambores. Afinal, quando o povo judeu saiu do Egito, as mulheres não tiveram tempo de preparar nem a massa do pão... Então como foi que deu tempo de levarem consigo tambores?! Convenhamos, este não é, definitivamente, um artigo de primeira necessidade! Nossos sábios explicam que este é um dos sinais da grandeza dessas mulheres: “De onde tiraram tambores e como aprenderam a dançar?” Resposta: estavam tão convecidas dos milagres que D-us faria para o povo judeu no deserto, que levaram consigo instrumentos musicais e prepararam danças para celebrar estes prodígios. As mulheres de Israel sabiam que aconteceriam milagres. Elas se preocuparam com o lado espiritual e não com o material.” (Parágrafos extraído do livro As Mulheres da Bíblia)
Homens são muito práticos, e essa praticidade eventualmente nos impede de sentirmos o espiritual que nos cerca. Por isso o Eterno nos permitiu o casamento, pois nossas esposas nos conectam com o Sagrado e compartilham conosco toda a espiritualidade que elas carregam em seus corações e atos.
Se Mirian foi uma das três pessoas que o Eterno escolheu para tirar Seu povo do Egito, o que podemos dizer de Jael?
Jael (que significa D-us está sobre ela) nos mostra a força e a sabedoria de uma mulher nos momentos de crise. Tal qual ocorrera com os israelitas, que acabaram sendo escravos no Egito, tempos mais tarde, Israel caiu nas mãos do rei de Canaã, chamado Jabim. E lá, eles pediam por um libertador.
Baraque, chamado por Débora para libertar seu povo, ficou receoso, e queria que ela fosse junto. Então Débora disse: “Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera.” (Jz 4:9)
Coube à Jael a oportunidade de matar o inimigo de seu povo, quando Sísera, já vendo seu exército como derrotado, fugiu, e os homens de Israel não o alcançaram. Então ela, com sabedoria (embora aparentemente fazendo algo errado) o convidou para entrar em sua casa, e depois de tê-lo acolhido, cobriu-o e fez com que ele dormisse para, enfim, matá-lo com uma estaca na testa. (Jz 4:17-24)
As grandes mulheres têm o poder de mudar a história com sua personalidade, e isso acontece através de atitudes excepcionais em situações sempre críticas. Jael era uma mulher virtuosa, obediente ao marido e boa dona-de-casa, mas simultamenamente era uma mulher dotada de forças descomunais; além de corajosa e destemida, características que veem à tona num momento crucial da história de Israel.
Nas grandes histórias de nosso povo, alguns homens tiveram seu nome exaltado, dignos de honrarias, mas assim como Mirian e Jael, muitas são as mulheres que merecem nosso reconhecimento por seu esforço em prol do povo.
Mulheres israelitas de verdade prezam pelo sucesso espiritual de Israel e não buscam o reconhecimento e méritos humanos. Para elas, acender as velas do shabat, trazer a luz da santidade ao interior de seu palácio, de seu lar, é tão satisfatório quanto libertar o seu próprio povo, pois uma mulher que cumpre a Torah com alegria, compartilha da Shechinah Divina com todos (de seu lar, de seu povo e de toda a humanidade).
Que os exemplos de Mirian, Débora e Jael sejam inspiradores à todas as mulheres, e que nós homens, possamos valorizar a cada dia a oportunidade que HaShem nos concede de vermos a Sua luz brilhar em nossos lares através da beleza e espiritualidade de nossas eshet chayil.
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